sábado, 20 de fevereiro de 2010

Mantras Devocionais


Kírtana: mantras devocionais
Miguel Homem


Kírtana são os cânticos do Yoga. Formas de mantras feitos geralmente de forma mais descontraída e que consistem na repetição dos diferentes nomes das facetas do absoluto, de Brahman. O absoluto é algo que o ser humano não consegue abarcar ou dar forma, porque o infinito não tem limites que comportem náma-rúpa (“nome-e-forma”). Não podendo atribuir uma forma ao Todo, o Homem procurou “desenhar” formas que representassem manifestações ou facetas desse Todo. Esses aspectos são os “Deuses” Hindus, como Shiva, Vishnu, Ganesha, Kálí, Durgá e muitos outros.

A tradição do Yoga ensina que a manifestação é na sua essência um conjunto de náma-rúpa (nome e forma). Tudo no universo se reduz a um nome e uma forma e a cada nome está sempre associado um conceito. Mesmo que esse conceito não tenha natureza real existe um conceito que lhe está associado. A figura dos contos de fada do dragão que cospe fogo parece não ter existência real. No entanto, independentemente de não ter existência real, a palavra dragão traz associada a si um conceito próprio, uma série de imagens, histórias e folclores. Isto acontece com todas as palavras. De cada vez que pronunciamos ou ouvimos uma palavra, a nossa mente preenche-se com esse conceito – o Arquétipo.
A prática dos kírtana visa ocupar a nossa mente com os signidicados associados às diferentes divindades do Sanatana Dharma, o Dharma eterno, através da repetição sucessiva dos seus diferentes nomes. Esses aspectos representados por cada uma dessas divindades sublinham muitas das características que se espera e deseja que o ser humano cultive para crescer e se desenvolver.


Assim, Ganesha representa a sabedoria, aquele que remove os obstáculos e traz fortuna. É aquele que protege os livros, o conhecimento e a educação. Em algumas tradições Ganesha aparece sem consorte, noutras é casado com Siddhi e Buddhi que representam, respectivamente, os poderes paranormais desenvolvidos através do Yoga e o intelecto e intuição.

A Deví, Deusa, é o aspeco feminino do universo e aparece desenhada em multiplos aspectos. Alguns mais benéficos em que simboliza a fertilidade, a protecção, a creatividade, a abundância material e outros aspectos mais terríveis em que se apresenta como a guerreira defensora do universo.

Shiva representa a constante transformação, a regeneração e a procriação. A palavra Shiva significa auspicioso, gracioso, favorável, benéfico, benevolente, amistoso, embora o seu surgimento esteja relacionado com o Rudra védico. Shiva é ainda o criador mitológico do Yoga e é o arquétipo do yogí perfeito.

Vishnu está associado ao aspecto conservador e preservador do universo e simboliza a bondade e compaixão. Diz-se que ao longo dos tempos Vishnu se manifestou em momentos cruciais para repor o Dharma na sociedade. Essas manifestações são conhecidas como avatáras e os mais famosos são Ráma, Krishna e Buddha. Por exemplo, Ráma e a sua amada Sítá são o símbolo da incorruptibilidade, da honestidade, da lealdade e da ternura.

Os kírtana procuram não só ocupar a mente mas também preencher o coração. Eles actuam directamente sobre o aspecto emocional humano. É normal a sensação de entusiasmo, de conforto e de bem-estar após a prática do kírtana. De alguma forma, através desta prática, estabele-se uma relação com aquilo que está a ser cantado.

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