CIDADÃO CORPO
O Hábito do Exercício
Físico
Por Hamilton Mamedes
Para que se estabeleça uma relação de prazer com o movimento
é preciso que o gesto acorde rapidamente em nosso interior ao menos algumas sensações prazerosas. E evitarmos o desconforto
das ações mecânicas que
nos vemos muitas vezes realizando.
Como lidar e despertar
as potencialidades e as sensações prazerosas do Corpo Humano?
Acontece com bastante frequência um cidadão se defrontar nas livrarias com um novo
manual de exercícios e adquirir um exemplar com entusiasmo. Acontece também de ele sequer experimentar
a primeira lição deixando o livro empoeirar na prateleira. O desejo de
introduzir o corpo numa disciplina se acende como uma chama verdadeira, porém extingue-se rapidamente.
Sem que o indivíduo
perceba por que, o
despertar dessa aspiração é interrompido e jamais chega a constituir um hábito.
Com a repetição desse processo, em lugar da continuidade de
um projeto corporal, nos tornamos possuidores de uma incoerente coleção de
livros, vídeos e mesmo recibos de inscrição em academias. É provável, então,
que certo sentimento de irresponsabilidade para consigo mesmo se apodere do cidadão. Essa impressão, somada às nossas frustrações em
outros setores, acaba ativando um mecanismo de defesa que dissipa pontualmente
qualquer impulso para o exercício corporal.
Procurando encontrar um caminho para despertar o hábito do
movimento em meus alunos, percebo que não é pela via lógica e racional que conseguiria
motivá-los. Tenho que atingi-los no seu mais profundo sentido corporal, com
sensações internas das diferentes partes do corpo e suas combinações. Nosso
corpo possui identidade própria e ela precisa ser despertada
para que possamos ter o hábito e a organização do movimento em nosso interior, proporcionando
assim imenso prazer, tanto na realização dos movimentos cotidianos, quanto na prática
do exercício.
Antes de mais nada, portanto, devemos provocar uma mudança de
qualidade em nossa relação com o movimento. Sem dúvida nenhuma, é sempre um
relacionamento consciente que poderá mudar nossa disposição corporal e é muito
difícil estabelecer uma relação de prazer com aquilo que não toca direta e
prontamente nossos sentidos.
Acordar para o
movimento e aprender a saboreá-lo,
permitindo sensações prazerosas e
nos libertar dos gestos de automatismo estereotipado no qual nossa
sociedade e seus cidadãos se enveredaram.
CONSCIÊNCIA E AUTONOMIA CORPORAL
O hábito de uma atividade física constante e que venha
imprimir uma qualidade de vida ao indivíduo e seu CORPO, que o ajude não apenas a desempenhar
exercícios mecânicos e
isolados, mas buscar o gesto essencial, o gesto fundamental, que se
constitui (ou deveria constituir-se) em sua origem motora, independente de
qualquer carga psíquica ou mental. Conscientes de suas funções e obrigações, ao invés de estudarmos como
a personalidade molda o movimento, iremos investigar como podemos construir e
aperfeiçoar nossa identidade por meio do
gesto e apoiando-se no gesto sendo capazes de expressar como CIDADÃO
CORPO, despertando e adquirindo consciência através do movimento e estabelecer-se na sociedade
com autonomia e identidade corporal. Cada indivíduo deve estar presente em seu corpo e
ter seu corpo presente para si.